As Apostas de Medalha na Paracanoagem em Tóquio 2020


Mary Santili representou o Brasil nas paralímpiadas do Rio 2016. Foto: Camila Souza.
Você já ouviu falar do Parque Iguaçu?  Também conhecido como Parque Náutico Iguaçu, ele fica localizado no bairro boqueirão, bem na divisa entre as cidades de Curitiba e São José dos Pinhais. Ao todo o parque possui oito milhões de m² de água e sua principal atração são as raias de remo e canoagem que já foram palco de várias competições, algumas internacionais, e também lugar de treinamento de vários atletas, incluindo Nayara Falcão e  Mari Santilli apostas na Paracanoagem brasileira em Tóquio 2020.
Por Camila Souza
A atleta paralímpica Nayara Falcão veio da Bahia para treinar em São José dos Pinhais. Sempre esteve envolvida no esporte como atleta amadora, fazia triatlo e outras atividades de aventura. Em 2013, foi surpreendida por um câncer. Parou com esporte, mas voltou aos treinamentos assim que se recuperou da doença. Foi ao voltar que Nayara sofreu um overtraining (excesso de treino).
Ela conta que por causa da má orientação dos profissionais que a treinavam, seu corpo foi levado a um colapso. Teve falência renal e pulmonar. Estava entrando em um quadro de falência múltipla dos órgãos. Passou 60 dias internada e a sequela foi a perda da sensibilidade das pernas.

Recentemente, Nayara conquistou a vaga para o Mundial na Africa do Sul. Foto: Camila Souza
Foi através do esporte que conseguiu sair de uma depressão. Começou a encarar a vida com outros olhos e não ver a deficiência como vergonha ou incapacidade. Resolveu procurar alguma atividade em que sua condição não fosse evidenciada. Já se sentia diferente, mas queria ser igual. Foi na canoagem que ela se encontrou.
Na água, sumia a deficiência. Era isso. Na água ninguém sabe que você tem deficiência. Uma coisa é um ajuste, um banco para frente ou um banco pra trás uma coisa presa, ninguém sabe o que ta acontecendo. mas eu estou igual a todo mundo.” Em 2015 participou de uma competição, ganhou em segundo lugar, mesmo sendo a primeira vez que entrou em um barco.
Logo depois da competição veio à convocação para se juntar à seleção paraolímpica de canoagem, mas Nayara não pode comparecer. A deficiência ainda era muito recente e ela teve que ser internada novamente. Um mês após ter saindo do hospital, veio para Curitiba competir no brasileiro de paracanoagem. Não conseguiu ficar entre os dois primeiros que são convocados para a seleção.
Ela continuou treinando, mas a falta de material e de estrutura para esse esporte em Salvador, cidade onde morava, chegou a fazer com que pensasse em desistir. Em 2017, resolveu vir pra Curitiba e realmente começar a levar o esporte a sério para se tornar uma atleta de alto rendimento. Mesmo sofrendo com dores neuropáticas, dentro do barco esquece de tudo. “Enquanto estou falando estou sentindo dor. O frio aumenta as minhas dores. É muito difícil, mas quando estou aqui, acredite, eu não me arrependo. É a minha terapia”.
Desde de março ela está treinando no Parque Náutico e tem aspirações de competir em 2020 em Tóquio. Nayara tem 33 anos e se diz consciente de que sua chance no esporte é agora. “A minha luta é a paraolimpiada. Se eu não chegar lá, pelo menos eu posso ter certeza que fiz tudo o que pude.”
Outra atleta que rema nas águas do Parque Iguaçu é a Mari Santilli, professora de Educação Física. Ela praticava esporte de forma amadora, em corridas de ruas, e estava iniciando na prática do triatlo.
Em 2006 sofreu um acidente de moto e teve que amputar uma das pernas. Ela conta que, ao contrário da maioria das histórias dos paratletas, o esporte não a resgatou, pois sempre esteve presente em sua vida. Quando se recuperou do acidente não via a hora de voltar a praticar alguma atividade.
Na sua primeira chance de voltar para um esporte, não hesitou. “O que eu queria era voltar a nadar. Foi a primeira coisa que eu vi de possibilidade para mim era a natação.” Com ou sem prótese, não tinha que se incomodar. O histórico de atleta amadora e a força física adquirida ajudaram muito na recuperação após o acidente, em seis meses já estava andando com a sua prótese. Foram dois anos e meio competindo como nadadora, mas os gastos com competições e o estresse fizeram com que ela voltasse pro amadorismo e começasse a nadar no mar, travessias de mil e quinhentos metros.
Foi nessa época que ela foi convidada para conhecer o remo. Ficou um mês remando, mas acabou migrando para a canoagem. “São barcos mais pesados que precisa de ajuda. O caiaque eu mesma coloco na água me viro e praticamente não preciso de ajuda”. Na canoagem, Mary viu a oportunidade de se tornar uma atleta de alto rendimento e haviam poucas competindo na paracanoagem. Logo no seu primeiro ano, foi campeã brasileira Depois, começaram a surgir oportunidades de competições a nível internacional.

Mary é professora de educação física pela Prefeitura. Foto: Camila Souza
Em 2016, Mari foi para a paraolimpíada do Rio de Janeiro, estreia da modalidade que antes não fazia parte das provas. Foi o grande momento da paracanoagem. “O nosso nome, dos 3 homens e 2 mulheres vai estar lá marcado. Foi muito especial.” Ela conseguiu chegar a semifinal, mas não passou para competir a final da modalidade. Não foi por falta de esforço. Para carimbar o passaporte para o Rio, ela ficou um ano no Centro de Treinamento da Universidade de São Paulo (USP) focada só em seu treinamento. Viveu a canoagem 24 horas por dia nesse período, com dois treinos por dia com uma tarde de folga na semana.
Agora ela divide seu tempo entre o trabalho de manhã e seu treinamento no Parque Náutico a tarde e aos sábados, em meio período ela tanta fazer tudo que fazia enquanto treinava na USP  e seu foco total é para o mundial que vai acontecer em agosto e em conquistar uma vaga para as paraolimpíadas de Tóquio.

Publicado originalmente em: https://jornalcapitaldanoticia.wordpress.com/2017/06/05/as-apostas-de-medalha-na-paracanoagem-em-toquio-2020/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Texto Institucional - Na região metropolitana de Curitiba, Polícia Militar apreende mais de 100 tijolos de maconha

Ingredientes para o sucesso.

Texto institucional - Tribunal julga irregulares contas de 2014 da Câmara de Kaloré e aplica multa