Ingredientes para o sucesso.


No bairro Pilarzinho, mais especificamente na Rua Elias Joaquim, 55 fica a loja Rose Petenucci Chocolates e Biscoitos Finos, e foi lá que gentilmente Rose nos recebeu para uma entrevista. Num local aconchegante e cheio de detalhes encantadores ela nos contou um pouco da sua trajetória de vida e sobre o seu empreendimento.
Rose Petenucci
Rose Petenucci nasceu no interior do estado de São Paulo, e como ele costuma brincar "até os 21 anos eu sempre fui nômade", morou também no interior do Paraná, em Minas Gerais, seus pais eram agricultores e mudavam-se muito conforme a época de colheita.  Aprendeu com a sua mãe a cozinhar, fazer os biscoitos e geleias diz sempre ter sentido muito prazer em elaborar comidas.
A empresária começou no ramo sem muita pretensão, mas o sucesso de seus produtos foi grande e sua clientela só foi aumentando. Hoje tem uma fábrica anexa a sua loja onde  junto com sua equipe de aproximadamente 30 funcionários, cuidadosamente desenvolve e fabrica suas receitas.
Afirma que hoje em dia é muito difícil encontrar mão de obra qualificada e que preza muito pelo atendimento aos seus cliente.
Nessa entrevista ela nos fala como foi essa caminhada de sucesso, de uma mulher que viu uma oportunidade e hoje seu nome é uma marca conhecida. 





Por Camila Souza


Como foi que a sua empresa surgiu? 
Trabalhei  cinco anos como professora no estado, quando tive meus filhos eu senti bastante dificuldade em sair de casa pra ser professora e deixar eles, e um determinado momento eu resolvi pedir a conta e ficar em casa, e nessa fase que eu comecei a fazer os doces, eu sempre fazia os biscoitinhos pra servir pros meus filhos, e como eu estava em casa as pessoas sempre pediam para fazer um pouco a mais, e comecei a vender as coisas em casa sem muita programação, de repente eu estava ganhando dinheiro. Até que recebi um convite da Julieta Reis para trabalhar na feirinha do largo da ordem, ela um dia comeu os biscoitos e ela disse assim, você não quer participar da feirinha do largo da ordem, como a feirinha funcionava aos domingos eu produzia durante a semana e no final de semana eu ia vender. Foi assim que começou, na feirinha eu fui ganhando clientela, e chegou até o momento que eu comprei este espaço aqui. Mas a foi o início, foi muito importante, foi onde as pessoas foram conhecendo os produtos, e abrindo o caminho.

Você falou sobre o espaço, você começou com toda essa área que utiliza hoje?
Eu comecei só com a parte de cima da loja, ali eu produzia embalava e vendia, tudo ali. Depois, eu até brinco que fui fazendo "puxadinhos", aí fui aumentando o espaço da loja.

Para você quais são as características fundamentais da sua empresa?
Olha, a nossa empresa tem uma característica que eu acho bem interessante, nós tentamos trabalhar com produtos com menor quantidade de conservantes possível, além do frescor, e o bom atendimento que são características que as pessoas gostam bastante.
"É muito importante fazer o que gosta. Fazer pessoas felizes me faz feliz. Temos que passar por essa terra deixando rastros de coisas boas, e com o alimento a gente consegue trabalhar isso, e isso me faz muito bem pois é o que eu acredito." 
Sua família incentivou a criação do projeto?  Como eles participam da iniciativa?
Incentivou muito, meu marido  na época, apoiou bastante, minha família também, meu filho se formou em administração e trabalha comigo hoje, a minha filha também trabalha comigo, me ajuda, ela é formada em jornalismo e em design gráfico,  me ajuda com a parte de mídias sociais, nos folders, os cardápios, tudo a gente trabalha em parceria e também sempre tive um apoio muito grande de todos a minha volta.

No site você fala que viajou pelo Brasil e o mundo fazendo cursos, quais foram os cursos que mais te marcaram? O que você destaca sobre essas experiências?
Fiz algumas viagens que me marcaram, uma delas foi em 1995, quando fui para a Europain, uma feira em Paris, nessa feira  tive contato com a produção do mundo inteiro, todos os países estavam expondo lá  e foi  um marco. Ali eu pude ver o quanto a gente podia crescer e o quanto nós podíamos fazer. Hoje em dia com a internet, a globalização, tudo é mais rápido, o mundo está em constante movimento e tudo é muito rápido, mas antigamente não era tão fácil, lançavam um coisa na Europa e demorava de três a quatro anos pra chegar até nós, então essa viagem foi muito importante, foi uma viagem fantástica! Fiz também um curso em Lenôtre, em uma escola de gastronomia bem conceituada, abriram-se muitas portas depois disso. Em 2005 eu fiz um estágio muito interessante em Munique, na Alemanha, foi uma expansão de horizontes. Cada curso vai acrescentando e aprimorando o nosso aprendizado, assim melhoramos as receitas e no dia-a-dia. Lá fora tinha à disposição um mundo de matéria prima que ao chegar no Brasil você tem que adaptar, por que aqui não tinha, sem pinoles, mas tinha castanha, tinha fubá, tinha o coco, tinha outras coisas pra acrescentar nas receitas, hoje em dia o acesso aos produtos importados é bem mais fácil.

Após o crescimento da empresa, você mesma que vai pra cozinha, você confecciona os produtos?
Não. Cada setor tem pessoas especializadas que fazem a função para mim, mas eu estou sempre junto com eles, chego e saio sempre no mesmo horário, na maioria das vezes saio até depois.  Eu tenho equipes divididas por setor, cada setor tem pessoas responsáveis. As receitas hoje  já são administradas por outras pessoas mas tudo ainda passa pelo o meu crivo.

Como é a estrutura da empresa?
Nós temos um setor que cuida do RH e do Financeiro, meu filho André formado em administração. Temos um setor de compras, um setor que trabalha com chocolate, um setor de biscoitos, um de tortas, doces, os mini bolos, o que abastece o café. Um setor de salgados também, que trabalha com empadas, sanduíches, as coisas que vamos elaborando. Um setor de embalagem e também um de Vendas.

Mesmo tendo vários funcionários exercendo o trabalho, Rose faz questão de conferir tudo de perto, participa no processo de criação e confere se tudo está saindo como o planejado.


Nesse processo de desenvolvimento da sua empresa, você considera ter tido alguma falha ou algo que faria diferente?
Quando as coisas começaram a se consolidar nós tivemos várias procuras de franquia, de abrir loja com os nosso produtos. Chegamos a ter aqui em Curitiba 5 lojas com a concessão da marca, mas as pessoas não mantinham as características da loja e nem a comercialização era feita da mesma forma, então não deu muito certo. No ano passado eu fechei a ultima loja, nós tivemos vários problemas de qualidade de produto, as pessoas não respeitavam a data de fabricação, faltou aquele contato direto, aquele carinho na forma de atender os clientes. No meio disso nós estávamos com o projeto da fábrica, que demoramos três anos para criar, entre projeto e toda uma estrutura, compramos o terreno,  projetamos, conseguimos os alvarás necessários. Quando estávamos com o alvará de construção pago eu decidi que não queria mais essa expansão, estava perdendo a essência do artesanal, com a melhoria, tudo  tinha que ser em alta escala, e quando se fala em cozinha todos os investimentos são muito caros, então foi um projeto, eu imaginei assim gastar 2 milhões, 2 milhões e 800 mil, mas nós tivemos um orçamento de até 12 milhões, então eu decidi não entrar nesse projeto, resolvi que íamos parar e continuar exatamente como começou, não exatamente como começou por que foi de uma forma bem rudimentar, indo para feiras e tudo mais, mas mantive essa loja. Considero que errei em muitas coisas, já voltei atrás, porém é um constante aprendizado, n o dia a dia você  erra e aprende, o que eu achei ter sido um erro eu consegui voltar atrás e retomar as rédeas. 

O que você considera que te ajuda a construir uma boa base de clientes?
Primeiro a qualidade de produto, atender ao cliente com uma certa rapidez e eficiência, o que é muito difícil. Hoje pra eu cuidar da cozinha e atender esse cliente eu dependo de pessoas, então uma das coisas pra eu voltar, retroceder foi justamente essa falta de mão de obra no mercado, atender corporativos por exemplo, eu contratei várias pessoas pra atender corporativo e foi uma dificuldade incrível, daquele bate a volta rápido, da pessoa ver o que quer, a mão de obra não ajuda, é bastante difícil.

Falando um pouco do futuro, você tem metas pré estabelecidas? Como você se imagina daqui um ano?
Sim. Adoro metas e isso me impulsiona, eu estou o tempo todo criando, isso é uma coisa que me move bastante. O que eu penso pra daqui 1 ano, primeiro é ter uma equipe ótima, isso é um objetivo, treinamento, pegar pessoas que tenham o mesmo sonho que a gente, e ter uma equipe legal podendo atender os cliente de uma forma bem prazerosa para ambos os lados. No nosso trabalho não da pra pegar pessoas temporárias e depois dispensá-las, então eu tenho que manter uma equipe fiel o ano todo, e financeiramente existe uma dificuldade, mas a gente vive sempre com projetos e objetivos de melhorar de criar de atender melhor de fazer algumas mudanças.

Tem algum colaborador que está com você desde a época da feirinha?
Tinha, eu tinha funcionários de vinte e poucos anos comigo. Ano passado se desligaram duas que estavam comigo desde o começo,  e esse ano mais um. Agora tenho funcionários de 8 a 12 anos de convívio.

Qual o critério que você usa pra contratar seus funcionários, o que você acha fundamental pra admitir uma pessoa?
Hoje em dia eu mesma faço a entrevista com os candidatos. Uma das primeiras perguntas que  faço é se a pessoa se identifica e como está disposta a fazer as atividades. Muitas pessoas vem só pela questão salarial, mas ela tem que ter um motivo a mais do que só o salário, tem que ter prazer no que faz, tem que gostar porque é um dia após o outro, semana após outra, ano após ano,  então se a pessoa não faz o que ela sente um pouquinho de prazer não vai dar certo,  o que eu procuro sentir nas pessoas é se vão fazer aquilo que gostam e não simplesmente fazer por fazer.

O que você mais gosta em ser empreendedora?
O prazer nas coisas que eu faço  é muito bom, porque nós trabalhamos muito com datas festivas, casamentos, aniversário, um simples jantar e agora com o dia dos namorados se aproximando as pessoas compram com todo aquele carinho, vem aqui,  escolhem, "eu quero esse bombom porque meu namorado gosta", ou "eu quero este recheio porque ela gosta". Você ir atender,  trabalhar com os prazeres através da sensação, do sabor, isso dá prazer para as pessoas e é uma coisa que me satisfaz bastante. Vai além de só vender chocolate, pois a gente trabalha com prazer e é muito legal isso. “A Fantástica Fábrica de Chocolate” relata bem isso, várias pessoas vão para o concurso e o menino que ganha é o mais necessitado, ele trabalha com uma coisa a mais. “O Chocolate” do Johnny Depp, é exatamente isso, ele retrata exatamente o que a gente sente, é um prazer sem explicação fazer um bolo. Por exemplo, você vai fazer uma festa, a pessoa vem com todo carinho e encomenda um bolo, temos que fazer com aquele mesmo carinho, pois é o teu aniversario, uma data especial, vai convidar pessoas especiais para estar comendo algo especial. Quando eu vou para a cozinha vou pensando nisso, quero dar o máximo que posso. Com os colaboradores eu procuro pensar nisso, sempre brinco: eu nunca consigo imaginar o quanto vai dar uma torta, mas penso no quanto de prazer vou proporcionar a quem vai comer.

Qual foi na sua opinião o maior desafio?
Lidar com pessoas. Porque é difícil passar todo esse meu sonho para as pessoas. Nós tivemos várias decepções com funcionários, pessoas... Muita gente vem aqui e não tem o mesmo sonho da gente, então isso nos custou e você vai ficando decepcionado ao longo do tempo. É a parte que mais sinto dificuldade até hoje. Outra parte que eu tive muita dificuldade, foi com as leis. Ser microempresário nesse pais não é nada fácil, lutar com toda essa corrupção, todos esses impostos, não é nada fácil. Sobreviver nesse meio não é fácil.

"A cozinha em si, aproxima as pessoas ela é um elo O que sai do coração e da Alma acaba agradando as pessoas."

O que você pensa para daqui dez anos?
O crescimento não está ligado à expansão, óbvio que temos metas de crescimento, de faturamento, de viabilizar as coisas mas isso eu tenho para daqui um, três, dez anos. Até lá pretendo estar com boa parte dos projetos consolidados. Queremos sim um crescimento em qualidade, atendimento, qualidade de vida para as pessoas que trabalham aqui. Queremos crescimento mas não focando em expansão, seria um aprimoramento.

Quando você começou na feirinha, já trabalhava com chocolate?
Eu comecei fazendo as geleias e os biscoitos, as geleias são uma paixão até hoje. Procuramos usar o máximo de produtos naturais. Usamos corantes, aromas artificiais, porém sempre procuramos usar o natural. Até hoje vou ao CEASA para trabalhar com matéria prima de primeira qualidade. O chocolate foi paralelo, nós usamos o chocolate em tudo que nós fazemos. Biscoitos são "glaçados" com chocolate, ou tem no meio, as saladas também têm molho de chocolate, então ele é um componente bastante importante na confecção, vendemos chocolate o ano todo, mas o forte mesmo são os biscoitos que é o que vende em maior escala, o que está no topo de vendas. O chocolate vem logo em seguida ao todo nós trabalhamos com mais de 1000 itens.

Você considera a imaginação importante para o sucesso no ramo?
Com certeza, ela tem um peso bem grande. As pessoas gostam de coisas bonitas e eu adoro criar. Faço as misturas e defino, agora para os dias dos namorados que está perto  vamos fazer esse bombom crocante, fazer isso, aquilo. Depois vou até a embalagem para definir como vai ser também. Acompanho cada setor passo a passo. Vou dando instruções para os colaboradores em cada setor.

Como você age quando alguém não está dando certo na empresa?
Eu tento dar outra chance, mas não é muito certo. Já aprendi que nesses 25 anos de empresa é melhor cortar o mal pela raiz, já sofri muito por isso, por tentar fazer dar certo. A gente tem paciência. Temos uma menina que trabalha conosco há 9 anos, ela começou na limpeza, pra ela foi muito bom chegar aqui e ter o potencial para crescer. Hoje ela é uma excelente confeiteira. Mas vários funcionários têm saído da empresa e criando novos negócios semelhantes ao meu, pois tem criado uma ótima experiência por aqui. Com algumas nós ficamos irritadas, outras nos deixam felizes com isso.

Sobre a divulgação, como é feito esse processo?
Nesses 25 anos de empresa já trabalhamos com um pouco de tudo. Nossa empresa nunca foi muito divulgada, acaba sendo uma divulgação boca a boca, um amigo traz o outro e isso acontece desde o começo. Utilizamos a mídia no geral, tem entrevistas, jornal,  várias coisas. Mas acabamos não dando muita ênfase, mesmo porque nossa produção não é muito grande, daí não teríamos a demanda necessária para suprir o público.

Qual seu conselho para quem gostaria de abrir o negócio como o seu?
Em primeiro lugar tem que ter o domínio do que quer fazer. Se ela quer fazer biscoitos,  tem que se especializar, aprender o máximo de tudo e dominar o que quer fazer. Também tem que gostar muito do que está fazendo, quando se trata de cozinha, é um trabalho árduo, você fica em pé o tempo todo... Hoje nós temos esse alunos que saem por exemplo do Centro Europeu, e montam alguma coisa que não dá certo, é porque eles vão com muita sede ao pote, criam uma certa ilusão. E um cozinheiro só vai ser um chef quando estiver comandando uma equipe e estiver cozinhando muito bem. A pessoa tem que ter domínio, gostar e ter também uma certa estrutura financeira para adquirir um espaço adequado. É possível conquistar tudo que se almeja, mas aos poucos com muito trabalho e paciência.

Teve algum objetivo que você alcançou recentemente?
Justamente esse retorno do processo de expansão, voltar a fazer aquilo que eu fazia antes, que era estar na cozinha. Nesse processo eu acabei saindo da cozinha, então voltar para as cozinhas me deu muito prazer. Estar junto com as pessoas, acompanhar o processo dos produtos, considero uma conquista pois não imaginava estar criando e produzindo as coisas tão rápido. Isso realmente é o que mais me deu prazer, principalmente neste ano. Entregar um produto para as pessoas e realmente saber como ele foi feito.

Nesse tempinho que estamos aqui, deu para perceber que seus clientes sempre voltam, pois, os funcionários já conhecem e você também brincou com a gente a respeito de eles saberem até onde acende a luz. O que você acha desse contato com o cliente?
Acho muito importante, há uns cinco anos atrás eles fizeram uma entrevista no Jornal Nosso Bairro e a entrevista que fizeram  ganhou como uma das melhores do ano. No final do ano eles me ligaram e pediram para eu criar uma frase para publicarmos. Eu estava tão emocionada e cansada, pois o fim do ano é tão exaustivo. Quando você fica muito cansada você também fica muito emotiva, eu desabei a chorar. Depois de não pensar em nada, decidi fazer um agradecimento aos meus funcionários, aos meus colaboradores e aos amigos que se tornaram clientes e aos clientes que se tornaram amigos. A gente acaba fazendo amizades bem legais com clientes,  a comida em si, aproxima as pessoas ela é um elo. O pessoal adorou a frase que coloquei no jornal, mas acho que é bem isso, o que sai do coração e da alma acaba agradando as pessoas.


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